terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

FICHAMENTO “A educação escolar pública e democrática no contexto atual: um desafio fundamental” - Capítulo II - Carlos José Libâneo, João Ferreira Oliveira e Mirza Seabra Toschi


1 - Impactos e perspectivas da revolução tecnológica, da globalização e do neoliberalismo no campo da educação.

A tecnologia começa a fazer parte do cotidiano das escolas particulares e públicas, assim como a educação à distância, a internet e outros recursos multimídias.  É preciso entender as razões, impactos e perspectivas dessa revolução para a educação e para a escola e avaliar as políticas educacionais que incluem a equipação eletrônica dos multimeios didáticos. 

A revolução tecnológica está favorecendo o surgimento de uma nova sociedade técnico-informal, com uma centralidade no conhecimento que passam a ser, do ponto de vista do capitalismo globalizado, força motriz e eixos da transformação do conhecimento e da educação. Onde não há praticamente lugar para o trabalhador desqualificado, com dificuldades de aprendizagem permanentes, incapaz de assimilar novas tecnologias, tarefas e procedimentos de trabalho, sem autonomia e especializado em um ofício e que não sabe trabalhar em equipe. A desqualificação passou a significar exclusão do novo processo produtivo. O novo processo de trabalho requer flexibilidade funcional e novo perfil de qualificação de força de trabalho, com habilidades cognitivas e competências sociais e pessoais, além de domínio de linguagem oral e escrita e conhecimentos científicos básicos da informática. Na ótica economicista e mercadológica do capitalismo, o desafio da educação consiste na capacitação da mão de obra e na requalificação dos trabalhadores, para satisfazer as exigências do sistema produtivo. O cidadão eficiente e competente, nessa ótica é aquele capaz de consumir com eficiência e sofisticação e competir com suas habilidades no mercado de trabalho.

Nos sistemas de ensino e das escolas, procura-se reproduzir a lógica da competição e as regras do mercado, com a formação de um mercado educacional. Busca-se a eficiência pedagógica por meio da instalação da pedagogia, da concorrência, da eficiência e dos resultados. Quando se consideram as possíveis contradições desse projeto com a melhoria da qualidade de ensino e qualificação profissional, em decorrência da revolução tecnológica, pode-se concordar que as perspectivas para o campo educacional não indicam a construção de uma educação democrática, equalizadora, formadora e distribuidora de cidadania. Parece inegável que a revolução tecnológica e as demais mudanças globais promovam a crescente intelectualização do trabalho, mas isso não implica que o projeto educacional deva ser por força competitivo e seletivo socialmente. Os impactos da revolução tecnológica no campo da educação podem e devem ser absorvidos, de modo que gerem perspectivas democráticas de construção de uma sociedade moderna, justa e solidária, o que, não deve significar a aniquilação da diversidade e das singularidades dos sujeitos.

2 – Objetivos para uma educação pública de qualidade diante dos desafios da sociedade contemporânea
As transformações gerais da sociedade atual apontam a inevitabilidade de compreender o país no comando da globalização, da revolução tecnológica e da ideologia de livre mercado (neoliberalismo). A globalização impõe aos países periféricos a economia de mercado global sem restrições, a competição ilimitada e a minimização do Estado na área econômica e social. O resultado tem sido o aumento do desemprego e da exclusão social em diferentes regiões e países. A inserção do Brasil nesse quadro econômico precisa dar-se sem comprometimento da soberania.O progresso, a riqueza e os benefícios advindos dessas transformações não podem ser usufruídos por pequena parcela da sociedade. Ao lado dos avanços científicos e tecnológicos – com o aumento dos bens de consumo, do bem-estar, da difusão cultural -, há a fome, o desemprego, a doença, a falta de moradia, o analfabetismo das letras e das tecnologias. Não pode por isso, negar, o progresso técnico, o avanço do conhecimento, os novos processos educativos e de qualificação. Trata-se antes, de disputar concretamente o controle do progresso técnico, do avanço do conhecimento e da qualificação, arrancá-lo da esfera pública, para potencializar a satisfação das necessidades humanas.

O grande desafio é incluir, nos padrões de vida digna, os milhões de indivíduos excluídos e sem condições básicas para se constituírem cidadãos participantes de uma sociedade em permanente mutação. O ensino para todos é necessidade fundamental. Há atualmente, claro reconhecimento mundial e social de sua importância para o mundo do trabalho, tal reconhecimento tem sido transformado em reformas e em políticas educacionais em vários países. O Brasil tem experimentado, desde o inicio da década de 1990, amplo processo de ajuste do sistema educativo. Especialmente no governo de Fernando Henrique (1995-2002) deram-se de acordo com uma lógica economicista.Em todas as reformas educativas, a partir da década de 1980, a questão da qualidade aparece como tema central. A educação busca novo paradigma, que estabelece o problema da qualidade, uma qualidade da pedagogia. Mas esta não pode ser tratada nos parâmetros da qualidade economicista. A escola não é empresa. O aluno não é cliente da escola, mas parte dela. É sujeito que aprende, que constrói seu saber, que direciona seu projeto de vida. Além disso, a escola implica formação de valores voltada para a cidadania, para a formação de valores – valorização da vida humana em todas as suas dimensões. Ela não pode ignorar o contexto político e econômico; no entanto, não pode estar subordinado ao modelo econômico e a serviço dele.

No contexto da sociedade contemporânea, a educação tem tríplice responsabilidade: ser agente de mudanças, capaz de gerar conhecimentos e desenvolver a ciência e a tecnologia; trabalhar a tradição e os valores nacionais ante a pressão mundial de descaracterização da soberania das nações periféricas; preparar cidadãos capazes de entender o mundo, seu país, sua realidade e de transformá-los positivamente. Que indicam três objetivos fundamentais para a construção de uma educação publica de qualidade no contexto atual: preparação para o processo produtivo e para a vida em uma sociedade técnico-informacional, formação para a cidadania crítica e participativa e formação ética. Aos alunos cabe empenhar-se, como cidadãos críticos, na mudança da realidade em que vivem e no processo do desenvolvimento nacional e que é função da escola capacitá-los para desempenharem esse papel. A formação ética é um dos pontos fortes da escola do presente e do futuro.

Conclusão
As novas leis e normas educacionais são de fato muito atraentes aos olhos de quem as leem, porém não funcionam tão bem na prática.  Como podemos ter uma educação de qualidade que inclua o ensino tecnológico, preparando alunos com potencial para competir em um mercado de trabalho tão exigente e capitalista, se esta educação não chega às zonas rurais, indígenas e quilombolas tão esquecidas pelos nossos governantes?

A educação de qualidade que prepara os alunos para um mercado tão competitivo e exigente é aquela que não exclui o menos favorecido, mais isso é impossível sem um investimento “pesado” por parte dos governos municipais, estaduais e federal.  A tecnologia sempre será bem vinda, na vida destes alunos, se estes mesmos alunos tiverem acesso à aprendizagem necessária dentro da sala de aula, ou seja, o espaço físico, materiais didáticos, mobiliário apropriado, professor qualificado, apoio pedagógico e governamental condizentes com a educação que os alunos merecem.

Enquanto existir apenas a teoria, não será possível construir um país igualitário, com possibilidade de trabalho e educação para todos. É preciso que haja ação para que a educação melhore, o aluno se torne um profissional bem qualificado, competitivo, e finalmente o tão desejado consumidor que o mundo capitalista sonha ter, do contrário, este mesmo mercado entrará em colapso profundo, pois sem essa educação adequada, não haverá trabalhadores qualificados, com salários elevados, para consumir o que quer que seja.
 Professora Cidinha Britto


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