O autor parte do princípio da
modernidade como “turbilhão” que desorganiza e reorganiza a sociedade em suas
esferas, ou seja, a modernidade que trabalha a favor e contra, que atua sempre
no contraditório. A modernidade se choca com o que somos e por conta disso pode
nos transformar. O ambiente humano passa a ser modificado pelas descobertas da
ciência e dos avanços tecnológicos que propiciam um olhar mais refinado para
questões antes não questionadas como a religião por exemplo. A leitura do momento histórico que
começa por volta do século XVI até o fim do século XVIII mostrará que havia
entre os indivíduos da época, dificuldade de entender a modernidade e a falta
de percepção de que ela estava em andamento. A revolução Francesa ainda no
século XVIII como outras vertentes revolucionárias dão o tom para a formulação
do conceito de modernismo e modernização.
É no século XX que a ideia de
modernização se espalha pelo mundo afora, o que contribui para uma fragmentação
do pensamento moderno como se tivesse se perdido no tempo e no espaço.
Nietzsche e Marx são um modelo que pode representar com muita propriedade, o
quanto o modernismo é contraditório, se por um lado Nietzsche é associado ao
modernismo nos nossos dias, por outro lado Marx não é associado a nenhum tipo
de modernismo. Para Marx a modernidade é paradoxal em
suas estruturas, o que deveria fazer do mundo moderno um “mundo melhor” é o que
o escraviza, e no topo dessa cadeia está o individuo para o qual a modernidade
passa a existir. Ele critica e alerta através de reflexões e analisa o
comportamento passivo do indivíduo frente a situação em que se encontra “a
atmosfera sob a qual vivemos pesa várias toneladas sobre cada um de nós — mas
vocês o sentem?”
Apesar das inúmeras possibilidades do
modernismo, os valores são deixados de lado e o vazio passa a tomar conta das
consciências. A descrença no cristianismo e em tudo que ele representa,
determina o seu “fim”. Nietzsche classifica esse momento histórico como o
momento em que Deus morre. Isto por causa dos ideais que já não existem, e todo
pensamento até então construído, não subsiste. O autor analisa o pensamento no
século XX, ou seja, pós Marx e Nietzsche, já desenvolvido, porém o pensamento
moderno estaria adormecido, estagnado e até regredido. A arte não é vista pelos
olhos do indivíduo, mas da “máquina” e o resultado esperado pelos artistas não
é atingido.
Quando as possibilidades são maiores,
quando todo o mundo pode ao mesmo tempo alcançar e desfrutar da criatividade e
brilhantismo das obras de artistas como: Grass, Garcia Marquez, Fuentes,
Cunningham, Nevelson, Di Suvero, Kanzo Tange, Fassbinder, Herzog, Sembene,
Robert Wilson, Philip Glass (com sua arte minimalista), Richard Foreman, Twyla
Tharp, Maxine Hong Kingston, a ideia de modernidade retratada por eles é
simplesmente negligenciada, quanto mais mergulhados na modernidade, menos se
“encantam” com ela.
Nos anos 60 John Cage (compositor de
4:33), Lawrence Alloway, Marshall McLuhan, Leslie Fiedler, Susan Sontag,
Richard Poirier, Robert Venturi, sugerem que “as fronteiras entre a “arte” e as
demais atividades humanas, como o entretenimento comercializado, a tecnologia
industrial, a moda e o design, a política. Também encorajou escritores,
pintores, dançarinos, compositores e cineastas a romper os limites de suas
especializações e trabalhar juntos em produções e performances interdisciplinares,
que poderiam criar formas de arte mais ricas e polivalentes”.
A modernidade trouxe mecanismos que
ajudam o homem a trabalhar e a ganhar o seu sustento de uma forma mais ampla e
com seus esforços reduzidos, essa visão mecânica se incorpora na vida social e
cotidiana e o “mecânico” passa a integrar as esferas da vida. Essa interpretação
que coincide com a de Max Weber exposta em sua obra: A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. De acordo com Marx,
Nietzsche, Tocqueville, Carlyle, Mill, Kierkegaar, isso pode ser modificado,
ficando sobre os homens a responsabilidade de soltar as amarras que os limitam
o espírito e o pensamento.
Os homens modernos são individualistas
e as coisas passam a ser mais valorizadas do que as pessoas e a visão desse
homem é ofuscada pelo “progresso”. A frase citada de um texto posterior retrata
bem essa ideia “nós intentamos a criação de uma espécie não-humana, na qual o
sofrimento moral, a bondade do coração, a afeição e o amor, esses venenos
corrosivos da energia vital, bloqueadores da nossa poderosa eletricidade
corpórea, serão abolidos”. O autor se utiliza do Fausto de Goethe
para demonstrar a modernidade em suas “fases” na vida do homem. A partir do
relato da obra vamos tomando conta de que é a “nós”, homens modernos que Goethe
reproduz.
O Fausto é um homem que conquistou o
que desejava de conhecimento e de bens materiais, um dia ele se vê preso, mas
não percebe que está preso em si mesmo. As suas conquistas não o tornaram
necessariamente melhor, apenas distante de tudo, de todos e de si mesmo.
Trancafiado em seus ideais, agora “adormecidos” ele sofre com a falta de algo
que ele nem mesmo sabe o que é e deseja morrer. Desiste da morte quando ouve do
lado de fora algo que o faz lembrar-se de onde veio e de como começou a sua
vida. Então decide sair da prisão que ele mesmo construiu e passa a viver
novamente. Porém ele não sabe mais viver, pelo menos não como antes, e
“precisa” da ajuda de Mefistófeles (o diabo) que ele conhece enquanto passava
seus momentos de “provação”.
Ele recebe ajuda de Mefistófeles para chegar
até a mulher pela qual se apaixonou, mas não para por ai, porque as riquezas e
os prazeres o seduzem e ele se torna cada vez mais dependente de seu novo
“amigo”. Fausto consegue realizar seus sonhos, inclusive o de ser correspondido
pela mulher amada Gretchen. Do relacionamento dos dois nasce um
filho que acaba morrendo de forma duvidosa, o casal já havia se separado e o
que poderia ser uma linda história de amor se transforma numa grande tragédia.
Muitos conceitos são reproduzidos através do enredo do Fausto, desde sua
primeira aparição envolta em um “mar de conhecimento”, passando pela paixão por
essa mulher, pela decepção que tem quando descobre que ela não é exatamente o
que ele sonhava, até o fim do seu trágico caso de amor.
Fausto não desiste, ele apenas muda o
cenário à sua volta, já que se dirige para uma floreta onde sua vida toma um
“novo rumo”. Ele parece estar no comando da situação, quando passa a interagir
com a natureza. Seu poder criativo se une ao de seu companheiro Mefistófeles,
eles atuam juntos, mas é o Fausto que adquire amadurecimento. Goethe, em sua narrativa, nos mostra o
homem em seu desenvolvimento no mundo moderno. Partindo do sonho, do esperado,
não apenas como homem individual, mas como parte da sociedade, da aquisição de
conhecimento e da capacidade de argumentar em torno de seus ideais. O encontro
com os padrões impostos e determinados pela sociedade, onde não há acordo entre
as classes, entre os gêneros, entre as etnias. Os conflitos que tomam conta da
sociedade têm a propriedade de fazê-la amadurecer e lhe revela novas
probabilidades.
No capítulo III, o autor nos chama a
atenção para Baudelaire, que segundo ele, bem poderia ser considerado o
primeiro modernista. É de Baudelaire a concepção de que “o sentido da
modernidade é surpreendentemente vago, difícil de determinar”. Ele critica e
ensaia uma orientação às raízes do modernismo, e embora o faça de maneira não
muito clara, (pelo menos não num primeiro momento), sua obra é um recurso
didático que acrescenta ao pensamento de outros críticos do comportamento da
sociedade moderna. Baudelaire aborda uma “confusão entre
ordem material e ordem espiritual”. A sociedade moderna não sabe o que é
progresso, ou melhor, o interpreta pelos meios materiais pelo palpável apenas.
A compreensão dessa sociedade é obscura e antiquada, mas parece clara e
moderna, isso porque se vale do aparente. Desde a roupa que veste até como se
comporta em sociedade, reflete a visão que esse homem, ou essa sociedade se vê
como moderna. A visão é totalmente capitalista e egocêntrica e não consegue
abranger as necessidades de orientação que o mundo moderno precisa.
Poemas
são utilizados para ilustrar a ideia do homem moderno em sua tentativa de
encontrar-se nesse ambiente que ele não consegue de pronto assimilar, por isso
não consegue conviver “pacificamente” com seus anseios e medos e traumas e
cicatrizes. Em suma, o autor entende e tenta
expressar nesses capítulos acima citados que “o pensamento moderno de “hoje”
deve voltar à sua fonte, ao lugar de onde partiu e para onde, nos esquecemos de
olhar”.
Referência
bibliográfica:
BERMAN, Marshal - Tudo que é sólido desmancha no ar, 2007.
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